Jul 14
Ricardo Nicodemos, vice-presidente executivo da Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócio (ABMRA) e diretor de planejamento da RV Mondel, é o entrevistado desta edição do ABS News. Ricardo destacou que a comunicação é um excelente e necessário recurso para construir e fortalecer uma marca importante como a do Agro Brasil. Ele ressaltou, ainda, que é preciso planejamento e a união de todas as partes da cadeia produtiva para gerar um legado para o Agro.
Na entrevista, o vice-presidente executivo da ABMRA também destacou que o agronegócio brasileiro se fortaleceu nos últimos meses. “O Agro mostrou-se extremamente resiliente e forte desde o início da crise gerada pela Covid-19. E isso sem fazer autopromoção”, afirmou.
Ainda segundo Ricardo Nicodemos, “esse fortalecimento de imagem, neste momento, ajudará no engrandecimento e na agregação de valor à marca Agro Brasil em um futuro próximo”.
O que a pandemia vem ensinando para o setor agropecuário?
RICARDO NICODEMOS: Certamente, essa pandemia trouxe muitos aprendizados e reflexões. Talvez, um dos principais ensinamentos seja a necessidade de criar ou de fortalecer o ambiente de cooperativismo: todos precisam se ajudar. A cadeia produtiva está entendendo que a soma de forças é melhor para superar os desafios aos quais somos expostos. Da indústria de insumos, os laboratórios de saúde animal, os produtores de sêmen, as revendas, os veterinários, os produtores até chegar à indústria de alimentos: todos precisam estar em sinergia para manterem seus negócios em pé e gerarem a produção que alimenta a nação e o mundo.
Qual é a importância da comunicação e da tecnologia nesse momento desafiador para a agropecuária?
RICARDO NICODEMOS: Tanto a comunicação como a tecnologia são recursos extremamente importantes para a superação de uma situação de contingência como a que estamos passando. Mas, se não houver planejamento, elas podem não atingir os resultados esperados ou os seus potenciais máximos. A frase “Se me dessem seis horas para derrubar uma árvore, eu passaria quatro delas afiando meu machado”, atribuída a Abraham Lincoln, nos diz muito sobre o planejamento que deve preceder qualquer tarefa. Planejar é afiar o machado antes de despender esforços e investimentos. Portanto, toda ação de comunicação deve ser precedida de um bom planejamento. Se observamos bem, veremos que boa parte dos problemas que tivemos durante a crise tem origem na comunicação fragmentada e falha de diversas fontes. A boa comunicação ajuda a orientar e dar o norte para que o setor siga firme e confiante. Assim como também é muito importante planejar antes de usar os recursos que a tecnologia oferece.
Qual é a mensagem mais importante para se transmitir pela agropecuária para o mundo, nos dias de hoje?
RICARDO NICODEMOS: Que o Agro é um dos principais, se não o principal pilar da economia brasileira e mundial. É preciso respeitar o Agro. É preciso tornar o Agro admirado por todos, afinal, é dele que nos alimentamos e pelo qual estamos sobrevivendo.
E no pós-pandemia? Como fica esse cenário?
RICARDO NICODEMOS: A pandemia trouxe e ainda trará muitas perdas para todos, algumas delas irreversíveis. Especialistas e historiadores dizem que as crises têm sempre muitas vertentes e algumas delas são a geração de profissionais mais resilientes e a criação de oportunidades. Algo que acontecerá é o fortalecimento da imagem do Agro perante a população de uma forma em geral, mas especialmente a que mora nos grandes centros urbanos. O Agro se mostrou forte e não se abateu, ao contrário: tem impulsionado a economia. Esse fortalecimento de imagem, neste momento, ajudará no engrandecimento e na agregação de valor à marca Agro Brasil em um futuro próximo.
Tecnologias como a genética já eram protagonistas das cadeias produtivas. Em momentos como este, elas se tornam aliadas ainda mais importantes? Por quê?
RICARDO NICODEMOS: O Brasil avançou muito nas últimas décadas nas questões relacionadas à tecnologia genética e à IATF. O trabalho realizado por empresas bem estruturadas e de ponta levou nossa pecuária a novos parâmetros e patamares de reprodução. Mas ainda há muita oportunidade para crescermos. Ao que parece, ainda temos muitos produtores tradicionais que não sabem ao certo o quão vantajoso e rentável é utilizar técnicas de última geração em suas propriedades. Embora atualmente a tecnologia esteja acessível a todos os portes de produtores, é preciso ultrapassar barreiras como a aversão ao novo ou os preconceitos gerados a partir de informações equivocadas. São desafios que certamente serão superados, leve mais ou menos tempo.
E a comunicação? Como ela pode contribuir para o legado que a agropecuária precisa deixar para o mundo?
RICARDO NICODEMOS: A comunicação é um excelente e necessário recurso para construir e fortalecer uma marca importante como a do Agro Brasil. Mas, sem juntar todas as partes da cadeia produtiva e sem planejamento, a comunicação pouco poderá fazer para gerar um legado para o Agro. É preciso unir todas as pontas e criar uma única mensagem. É preciso que todos tenham a mesma bandeira e o mesmo discurso: afinal, hoje, mais do que nunca, somos todos Agro. Não importa se é um produtor de gado de corte, se é um produtor de soja ou de feijão; se é um laboratório de saúde animal ou uma produtora de sêmen: todos precisam estar uníssonos com a mesma mensagem. Todos a uma só voz. Aí sim, a comunicação fará toda a diferença.
Na sua visão, os diversos agentes da agropecuária poderão ficar mais unidos após esta crise? Por quê?
RICARDO NICODEMOS: Vivemos em um mundo frenético, com milhões de informações geradas por segundo. Tudo a uma velocidade máxima, muitas vezes ultrapassando os limites. De repente, freamos de uma única vez. O mundo travou. A pandemia fez com que as pessoas, empresas e profissionais parassem e olhassem para os lados. No Agro, assim como em outros mercados, as pessoas estão se dando conta de que precisam umas das outras. O ser humano não foi criado para viver como eremita, ele precisa do convívio com os seus pares. E é essa necessidade de conviver e de “estar próximo” que provavelmente levará toda a cadeia produtiva do Agro a se unir, a trocar informações e fará com que todos os personagens se ajudem mutuamente.
E em relação aos produtores? Como a comunicação e o marketing rural podem ajudá-los?
RICARDO NICODEMOS: O bom marketing – aquele bem planejado – e a comunicação – aquela criativa – têm o poder de mobilizar e de mudar situações. Por mais que tenhamos boas ações por parte das empresas e bons meios de mídia dirigidos aos produtores, incluindo as revistas impressas, ainda assim, há muito para ajudar os produtores. Há um grande universo de produtores que precisam de informação de qualidade, mesmo que não seja o “tecniquês”. Grande parte dos produtores não tem nível superior e nem cursos técnicos, então é preciso saber o que e como comunicar a eles. A boa comunicação não está naquilo que se se diz, mas naquilo que se entende.
Muitas empresas vêm organizando ações como webinários, palestras on-line, etc. Que outras atividades surgem como resposta ao isolamento?
RICARDO NICODEMOS: Algumas empresas criaram programas de relacionamento e back office para venderem, darem apoio e ajudarem o cliente no dia a dia.
Qual foi a melhor estratégia que o senhor viu ser aplicada nesse contexto?
RICARDO NICODEMOS: Uma das estratégias que mais chamou a atenção foi a implementada por uma rede de revendas agropecuária. Ela precisou se reinventar rapidamente para atender a todos os seus clientes. A iniciativa mudou a forma como eles abordavam e vendiam. Todas as equipes das lojas foram treinadas para passarem a vender por telefone e através de aplicativos de mensagens instantâneas. Parece ser simples, mas quando consideramos que estamos tratando de um público acostumado a ir pessoalmente à revenda, “prosear”, tomar café, encontrar seus pares produtores e só depois comprar, entendemos o quão desafiador foi para essa revenda passar a trabalhar com uma espécie de telemarketing de vendas.
As estratégias de comunicação para as empresas do agronegócio devem ser diferentes dos outros setores econômicos?
RICARDO NICODEMOS: O melhor é pensar que não podemos ter uma resposta única para essa pergunta, já que em comunicação cada caso é um caso singular. Tudo depende de qual categoria de produto estamos tratando e quais os objetivos precisamos atingir. O produtor rural é um consumidor que apresenta características e hábitos similares aos da população urbana. Então, dependendo da categoria de produto, a estratégia poderia ser similar à usada em outros setores econômicos. Entretanto, há muitos casos e situações em que a estratégia deve ser construída especificamente para aquele produto ou para aquela marca. Em resumo, não há formulas padrões para uma estratégia de comunicação. Tudo depende de diversos fatores.
O senhor acredita que o agronegócio sairá mais forte deste cenário?
RICARDO NICODEMOS: Sim, acredito que o Agro se fortaleceu muito. O Agro mostrou-se extremamente resiliente e forte desde o início da crise gerada pela Covid-19. E isso sem fazer autopromoção. O Agro está sendo percebido como a coluna que está sustentando o Brasil.
A situação da pandemia pode fortalecer a imagem da agropecuária como uma heroína perante a população?
RICARDO NICODEMOS: A percepção da população em relação à força e a riqueza do Agro do seu país certamente melhorou muito, mas ainda não chegou ao ponto dele ser tratado como um herói. Há um longo caminho para que isso aconteça. Para que o Agro seja considerado um herói, é preciso um trabalho bem estruturado e planejado de marketing e de comunicação, agrupando toda a cadeia produtiva sob uma única bandeira: defender e construir a imagem e marca do Agro do Brasil. Todos a uma só voz.
Matéria publicada na edição de junho do ABS NEWS. Clique abaixo e confira outras matérias na íntegra: